A 38ª edição do concurso Noite da Beleza Negra voltou a elevar a autoestima da comunidade negra de Salvador e a propagar a cultura afro-baiana na noite deste sábado (4), na Senzala do Barro Preto, sede do Ilê Aiyê, localizada no bairro da Liberdade. A nova rainha do Ilê para o Carnaval ficou conhecida na cerimônia. Gisele Santos Soares, 24 anos, foi escolhida entre 15 concorrentes ao título de Deusa do Ébano 2017, musa anual do Pérola Negra. A jovem, que participou pela primeira vez do concurso, passou a ter missão de representar o grupo na luta pela valorização da riqueza histórica da cultura afro-brasileira em todo o mundo.
Os jurados avaliaram as finalistas em requisitos como beleza, atitude, aptidão para dança afro e conhecimento sobre a história do ‘mais belo dos belos’ e do povo negro da Bahia. Apoiada pelo Governo do Estado, por meio da Bahiatursa e das secretarias de Turismo (Setur) e de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), a Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê é o maior concurso de beleza e exaltação da mulher negra no Brasil. Realizado desde 1975, o evento tem estimulado a discussão acerca do que é ser negro e do padrão de beleza, além de impulsionar o discurso de valorização das raízes.
“Esta é uma grande ação afirmativa do Ilê Aiyê. Ela vai além da escolha de uma musa. O contexto da Noite da Beleza Negra mexeu com a estrutura do povo brasileiro no que diz respeito ao valor da mulher negra. O evento é pioneiro e estimulou outros estados a entrarem forte na luta. Hoje tem concursos como este em várias partes do país“, explica Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, presidente da organização.
Para a secretária da Sepromi, Fábya Reis, o evento funciona como um mecanismo que amplia horizontes de mulheres negras e garante melhores condições de luta contra problemas sociais como o racismo. “Ao longo dos anos, a gente vem percebendo estas meninas se empoderando, virando referência e elevando sua autoestima. O Governo do Estado tem desenvolvido diversas ações de combate ao racismo e de estímulo à valorização da população negra, assim como apoiando eventos como este. Esta atenção reforça a luta e já é possível ver a comunidade negra muito mais forte”, ressalta.
A noite foi inspirada no tema do Carnaval 2017 do Ilê Aiyê, ‘Os povos Ewe/Fon – A influência dos Povos Jejes para os afrodescendentes’, e atraiu pessoas de todas as idades e diferentes lugares. O público marcou presença, fazendo um desfile à parte pelos espaços da Senzala do Barro Preto. A advogada Simone Florindo veio de longe para conferir as batidas dos tambores. “Sou de Brasília, mas venho muito à Bahia. Já conhecia o Ilê Aiyê, mas ainda não tinha vindo para a Noite da Beleza Negra. Estou adorando. Eu me identifico bastante com a valorização da mulher, que é uma das bandeiras levantadas aqui“, afirma a visitante.
A tradicional Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê demonstra a riqueza cultural da Bahia para o mundo. O evento, que mistura diversas manifestações artísticas, também fortalece o turismo, servindo de atrativo no período do verão. “Apoiar eventos como este permite a valorização do nosso povo e da nossa cultura e isso, sem dúvida, engrandece a nossa Bahia“, enfatiza o secretário de Turismo do Estado, José Alves.
Manifestações culturais
Música, teatro, dança, poesia e outras manifestações culturais tornaram o evento ainda mais especial. A programação incluiu diversas atrações musicais, como a anfitriã Band’Aiyê e as cantoras Daniela Mercury, Juliana Ribeiro, Dannny Nascimento e Nara Couto.
O evento também garantiu homenagens a mulheres negras que têm feito a diferença no mercado de trabalho e na luta pelo empoderamento feminino e igualdade de gênero e etnia. Entre as homenageadas da noite estavam as jornalistas Rita Batista, Wanda Chase e Maíra Azevedo (Tia Má), além da ialorixá Mãe Jaciara e da socióloga Wilma Reis.
“Nos últimos 40 anos, o Ilê Aiyê tem sido uma das nossas sustentações no estado. A Noite da Beleza Negra veio para reforçar a nossa luta e tem sido muito importante ao longo dos anos, tanto para quem participa quanto para quem assiste. Ela ajuda a todos a vivenciar o que nós vivenciamos, reforça nossa sensação de pertencimento e orgulho de quem somos. Para mim, a sociedade brasileira pode ser dividida em antes do Ilê Aiyê e depois do Ilê Aiyê”, afirma Wilma.