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Foto e divulgação MF Models Assessoria

A transexual Melissa Paixão, conhecida como a transexual do mundo Fashion, sairá na próxima edição da revista Top Magazine, que já publicou on line uma entrevista com a modelo. Melissa saiu na mídia também como sósia da Bruna Marquezine, saiba um pouco mais na integra:

Meu nome é Melissa Paixão, tenho 22 anos e sou transexual. Nasci em Belo Horizonte e, ao contrário do que pensam, tive uma educação que hoje me abrem portas e sorrisos. Fui criada por pais, claro, muito rígidos, mas que, desde muito cedo, me incentivaram a ser quem eu realmente sou. Por ser uma garota trans, tive a infância que queria, brincava de boneca e tudo, só não vestia roupas femininas nem usava cabelão.

Fui uma criança muito prepotente, mostrando desde cedo quem eu era. Talvez por isso nunca tenha enfrentado problemas de preconceito dentro de minha própria casa. Bom, tanto não enfrentei que meu pai é meu maior incentivador, é quem mais me quer realizada. É claro que não vou ser hipócrita, pois tenho irmãos evangélicos que me julgavam errada por não viver a vida de acordo com a doutrina da igreja deles, mas aí o mundo deu muitas voltas e eles acabaram percebendo meu valor.

Já minha mãe, mesmo me tratando como menino, preferia que eu ficasse no meio das garotas. Na cabeça dela isso evitava um pouco a violência das brincadeiras masculinas. Independente desses safanões, não tenho o que reclamar de minha família. Eles me deram uma base estrutural muito significativa, embora, claro, quando criança eu tivesse uma cabeça confusa.

Certa vez foi reprisado um programa do Silvio Santos com a Roberta Close e me identifiquei no ato com aquela história, até meio fictícia, que alegava que ela era hermafrodita. Imaginem que pra uma pessoinha de 8 anos entender que um ser humano pudesse nascer com dois sexos era uma confusão mental. À parte disso, me vi na história da Roberta. Eu não entendia ainda o significado da palavra transexual, tão pouco sabia o que era ser uma travesti, mas entendi naquele dia que minha história se cruzava com a dela porque eu me sentia uma garota.

Na escola eu andava com as meninas e já com 12 anos eu expunha o que era, enfrentava de cabeça erguida minha condição sexual. Isso fez com que minha família também buscasse ajuda, até para que eles pudessem entender melhor o que era o transexualismo. Foi quando eles, inclusive, ouviram a palavra pela primeira vez. Com 13 anos eu já era aceita como uma garota trans dentro de minha própria casa. Não tive nem tempo de me preocupar com o que pensava a sociedade.

Aos 18, já apaixonada por moda, tomei uma decisão muito importante. No começo enganei minha mãe dizendo que eu viria para o interior de São Paulo morar com um parente próximo e estudar moda, mas na verdade eu já vinha fazendo amizades na capital e já tinha a ideia de vir de vez pra cá. Aconteceu naturalmente. No início comecei trabalhando como hostess em algumas casas noturnas e as pessoas sempre admiravam muito a minha coragem e comentavam minha beleza. Terminei esse ciclo na Zero Zero e me despedi da vida de hostess para me dedicar à moda e ao teatro.

Acabei conhecendo o estilista Walério Araújo, que já se dizia um fã meu desde os tempos da Zero Zero. Comecei cliente dele porque me identificava com o estilo, com os vestidos sexies – adoro uma transparência – e essa amizade resultou num convite encantador, a realização de meu primeiro sonho. Acabamos indo a Paris fotografar a última campanha dele, o que me tornou uma mulher realizadíssima.

Quando vejo essas cenas de homofobia que assombram o Brasil, fico, claro, muito chateada, constrangida. É como se o país vivesse uma dualidade, pois ao mesmo tempo em que nós conquistamos espaço cada vez maior, os crimes aumentam na mesma proporção. Há 10 anos atrás a gente não via trans fazer sucesso, aparecer na mídia como aparece hoje a Lea T, a Carol Marra. O Brasil melhora de um lado e piora de outro. Como vai ser se tivermos uma presidente que prega a não criminalização da homofobia? Mas, ao mesmo tempo, me pergunto se a culpa disso também não é dos próprios gays. Muitos não se assumem, não saem do armário e a maioria se auto recrimina. Até quando vamos nos rotular?

Sou muito assumida, muito segura. Pretendo, dentro de dois anos, fazer a cirurgia de mudança de sexo. Sei que algumas trans reclamam, falam da dor. Eu não tenho medo, estou certa do que quero. Assim como estou certa que mesmo depois de operada, serei sempre transexual. Nunca serei genuinamente mulher. E é nisso que a maioria se frustra, porque quer forçar a sociedade a aceitá-la como mulher, quando, na verdade, ela não deixou de ser trans. Nos meus relacionamentos, por exemplo, sempre esclareço isso e tenho preferência por héteros. Gosto dessa coisa de conquistar um homem com minha essência feminina. É claro que na hora de manter uma relação sexual a coisa complica. Levo, no mínimo, seis meses para tirar totalmente a calcinha para um namorado. Acredito que a cirurgia vai me ajudar nessa questão também.

Uma coisa engraçada que vem acontecendo de uns dois anos pra cá é que muito me comparam à Bruna Marquezine. Outro dia até fiz uma participação num programa de TV, onde eu aparecia numa praça do interior de São Paulo e ficava aguardando a reação das pessoas. A maioria me confundiu com a atriz e pediu pra tirar foto, fazer a famosa selfie. Achei o máximo, pois ela tem 18 anos, então, estão me dando 4 a menos. Sinal que devo estar cuidando bem da pele. Quero até conhecê-la, mas sem ficar estigmatizada como sósia dela.

Não tenho grandes pretensões, não quero fama. Quero ser reconhecida por meu trabalho, seja como modelo ou atriz, já que faço escola de teatro Macunaíma.Sonho com o dia que farei uma novela, que serei o rosto de uma grande campanha. E sei que esse dia está próximo, pois ninguém confia mais em mim do que eu mesma.

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