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Jorge Aragão da entrevista para a revista Sexy e fala da carreira, do infarto e da sua música que tocou até em marte

Jorge Aragão. Foto: Paula Giolito / Divulgação
Jorge Aragão. Foto: Paula Giolito / Divulgação

A edição de fevereiro de 2015 da Revista Sexy traz o cantor e compositor Jorge Aragão em uma super entrevista, com revelações do sambista sobre os sucessos gravados por Beth Carvalho, Elza Soares e ExaltaSamba, do processo de composições, explicou como reagiu ao infarto que teve em junho de 2014 e falou de sua música tocada até em marte.

Começando a entrevista, Jorge Aragão falou sobre o seu primeiro contato com a música. “Eu devia ter uns 10 para 11 anos e tentava de todas as formas me aproximar de um violão. Gostava e tinha muita curiosidade, mas condição zero de ter um violão em casa. Aí eu ia pra praça e ficava olhando a garotada, porque sempre tem um artista no meio da turma, né? E ficava pedindo pelo amor de Deus para alguém me emprestar o violão, mas pra eu levar pra casa pra tentar treinar aquilo que eu via que eles estavam fazendo. E eu não sabia. Até hoje sou autodidata, mas não me orgulho não.”

Falando do início da carreira, o compositor contou como o encontraram. “Sou de família muito católica, e uma das coisas mais sagradas era a Sexta-Feira Santa. E em um desses almoços estávamos todos reunidos em casa e tocaram a campainha. Perguntaram se era ali que morava o Jorge e queriam falar comigo pra saber se eu podia tocar numa banda. Eu gelei quando escutei aquilo, porque já ficou todo mundo tenso na mesa. Alguém tinha comentado por aí que eu estava solando, e quem disse isso mentiu também! Deveriam ter falado que eu solava umas três músicas só (risos). Meus pais já começaram a surtar, falando que era coisa de vagabundo, porque o chique na época era ser bancário. Até hoje não sei como minha mãe concordou com isso. Mas foi assim e não veio de dentro do samba.”

Jorge Aragão também falou do início da carreira no samba. “Eu queria fazer música e queria compor, mas só isso. Não queria um compromisso maior. Depois veio o Neoci Dias (um dos membros da primeira formação do Fundo de Quintal, junto de Jorge), que me levou pro Cacique de Ramos (tradicional bloco de Carnaval do subúrbio carioca), onde eu conheci o que era essa pulsação mais forte de samba. Eu já cantava “Malandro” (primeiro sucesso de Jorge Aragão, gravado por Elza Soares, em 1974) porque eu tinha essa música, mas foi a partir dali que comecei a criar mais. Ali percebi o quanto o samba era importante, quanta riqueza tinha e que podia fazer do meu jeito. Embora seja considerado sambista de raiz, a minha formação é de músico de baile.”

Sobre o Fundo de Quintal, Jorge também lembrou do começo do grupo e de quando pediu para sair. “Dentro do Cacique de Ramos foi onde começou a crescer esse movimento que acabou virando o Fundo de Quintal. Sou um dos fundadores do grupo e uma dessas pessoas que começaram todo aquele movimento, que gerou Fundo de Quintal, Almir Guineto, Zeca (Pagodinho), Arlindo Cruz, Sombrinha…Quando eu pedi pra sair, colocaram uma pessoa que é o ícone do samba, que é o Arlindo Cruz. Eu já o conhecia, já tinha visto o Arlindo tocando e tal, e graças a Deus deu tudo certo, ele ta aí. Pra mim, foi um pouco de talento e muito de sorte, porque eu saía gravando um monte de coisa, escrevendo. E a Beth (Carvalho) tinha ouvido uma música no Cacique de Ramos, e falou que ia gravar. Era “Vou Festejar”. Depois disso, o país inteiro estava cantando a música e canta até hoje.”

Falando da sua saúde, o assunto foi o infarto. “Nunca havia infartado antes, até que, em junho do ano de 2014, acordei de manhã e pã! Sonhei que alguém estava fazendo algo que eu não queria e, sentindo isso, abri os olhos e veio aquela dor intensa. Eis que a vida mudou. Vou te falar um negócio, guarda isso pra você: a melhor coisa que aconteceu na minha vida foi eu ter infartado. Aprendi a querer viver mais, a olhar melhor as pessoas. Tudo tem mais valor. Eu sei que fiquei na beira do penhasco.”

O compositor comentou sobre a sua música ter tocado em Marte. “Sempre falei que nunca vou ser o Chico Buarque, mas tenho uma música tocando em Marte (risos).”

Paula Giolito / Divulgação